sábado, 19 de setembro de 2015

As palavras de génio dizem nos sempre tanto

"Eu não parti de um porto conhecido. Nem hoje sei que porto era, porque ainda nunca lá estive. Também, igualmente, o propósito ritual da minha vigem era ir em demanda de portos inexistentes - portos que fossem apenas o entrar-para-portos; enseadas esquecidas de rios, estreitos entre cidades irrepreensivelmente irreais. Julgais, sem duvida, ao ler-me, que as minhas palavras são absurdas. É que nunca viajastes como eu."

Fernando Pessoa

domingo, 6 de setembro de 2015

O Sonho

"Tenho pena dos que sonham o provável, o legitimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho.
Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que ao embala sem lhes dizer ada. Mas os que sonha o possível tem a possibilidade do real da verdadeira desilusão (...)
O sonho que nos promete o impossível já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possível intromete-se com a própria vida e delega nela a sua solução. Um vive exclusivo e independentemente o outro submisso das contingência do eu acontece.
Por isso amo as paisagens impossíveis e as grandes áreas desertas dos plainos onde nunca estarei. (...)

Durmo quando sonho o que não há; vou despertar quando sonho o que pode haver."

 
Fernando Pessoa