Eu que trabalho com crianças e jovens numa escola publica, deparo-me muitas vezes com situações de negligencia, abuso, e maus tratos.
Eu aprendi com a minha profissão que o sigilo é algo precioso, mas que deve ser quebrado sempre uma criança ou jovem está em risco!
Eu denuncio, e já fui ouvida várias vezes na GNR, em tribunais, etc.
E de todas as vezes que denuncio me sinto sozinha, a remar por uma justiça que pelo visto é só minha.
Quando estou a ser ouvida, vejo todos à minha volta a "tirarem a água do capote", a "lavarem as mãos como pilatos". A dizerem "nins" em tribunal.
Todos, tal como eu sabem, alguns até sabem mais, mas falta-lhes algo... uns dirão que é falta de coragem, eu digo que é falta de civismo, é falta de empatia pelo outro Ser (que neste caso até é uma criança ou jovem).
E ainda me tentam dissuadir, dizendo: - Queres mesmo andar com isto para a frente? Sabes no que te vais meter! Assim nunca mais te vão parar de chatear?! Pedir relatórios! Serás ouvida n. vezes! Estás preparada para isto!
São tantos os casos que nos passam pelas mãos, tantos que provavelmente o comum dos mortais nem pensaria ser possível existir, num pais dito europeu em pleno séc..XXI.
Por alguns breves momentos penso se vale realmente a pena, se devo denunciar e até hoje a resposta tem sido sempre, sim!
Infelizmente as nossas CPCJ também tem o terrível habito de informar quem faz a denuncia, e sei do que falo, pois já trabalhei com várias. Talvez tenham medo e queiram desresponsabilizar-se, dizendo: -Não somos nós! Isto foi a psicóloga que disse!
E lá estou eu tramada! Confesso que sei que muitas vezes bateram ainda mais nos filhos, porque eles me contaram e proíbem eles de falar mais comigo e ai sinto-me tão revoltada. Revoltada porque me sinto impotente, porque não os protegi o suficiente ...
Mas a experiência vai-me dando "calo" e agora faço as denuncias com conhecimento da família, chamo-os à escola e digo-lhes, desmistificando claro, que vão ser referenciados para a CPCJ (e não denunciados, porque com estas família a terminologia é muito importante) digo-lhes que nada têm a temer, porque se eles provarem que está tudo bem, a CPCJ irá arquivar o caso e ficará tudo bem.
Desta forma consigo continuar a acompanhar a criança e a família que quase sempre melhora o seu comportamento.
Casos como o do Rodrigo devem ser amplamente discutidos pela sociedade, uma sociedade egoísta, egocêntrica que perde tempo em discussões banais nas redes sociais, mas que não atuam, que fecham os olhos aos casos que se encontram mesmo ali no seu prédio, no seu bairro, na sua escola.
Talvez estes tristes casos, consigam acender uma luzinha de humanidade.
A pergunta que fica é:
EU DENUNCIO e VOCE?
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