domingo, 17 de maio de 2015

O Senhor Valéry

Vou-vos deixar com um pequeno pedaço desta obra, para que possam saborear e refletir:
 
O senhor Valéry andava sempre a pé. Muito rápido, com passinhos pequeninos. (...)
um dia o senhor Valéry precisou de se deslocar a um ponto afastado da cidade.
A pé demoraria dez horas. De comboio apenas vinte minutos.
Depois de muito pensar o senhor Valéry decidiu ir a pé.
O senhor Valéry explicava:
- quem me garante que o sitio onde chego após dez horas é o mesmo do que aquele que chego em vinte minutos?
E com mais convicção dizia:
- É evidente que não é o mesmo sitio.
E o senhor Valéry desenhou, então, duas setas de comprimento muito diferentes
 
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E exclamou:
Só um louco diria que o ponto final das duas setas é o mesmo.
Ganhando balanço o senhor Valéry continuou:
- E mesmo se for de comboio e esperar parado, no destino, 9horas e 40 minutos, esse meu destino não será o mesmo do que aquele aonde eu chego em dez horas de caminho a pé; já que eu estive lá, nesse sitio, mesmo que parado, 9horas e 40minutos a modifica-lo.
E começou, então a andar, pois a decisão estava tomada.
Ao fim de vinte minutos de caminhada o senhor Valéry olhou para o relógio e pensou de modo algo confuso:
- Se eu me encontrasse já no meu destino, este momento exacto seria o sitio onde eu chegaria.
Olhou à sua volta e disse:
- Porém este não é ainda o meu destino.
Continuou, assim a andar. mais tarde, contente, exclamou, ainda para si próprio:
- Ainda não cheguei, mas eu vou para outro sitio.
E como faltavam ainda cerca de 9horas para chegar onde queria, o senhor Valéry continuou a andar, contente e feliz com os seus raciocínios, um pé a seguir ao outro, sempre ao mesmo ritmo, a andar em direção ao destino.
- A mim ninguém me engana - murmurou o senhor Valéry, já a suar muito.

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