
Deixo-vos aqui um pedacinho desta maravilhosa prosa:
Platero, tu vês-nos, não é verdade?
Não é verdade que vês como ri em paz, clara e fria, a água da nora do horto; como voam na luz derramada, as abelhas atarefadas em volta do alecrim verde e malva, róseo e dourado pelo sol que ainda ilumina a colina?
Platero, tu vês-nos, não é verdade?
Não é verdade que vês passar pela encosta rubra da fonte velha os burrinhos das lavadeiras, cansados, coxos, tristes na imensa pureza que une a terra e o céu, num só cristal de esplendor?
Platero, tu vês-nos, não é verdade?
Não é verdade que vês as crianças correndo, entre as estevas que têm pousadas nos ramos as própria flores, leviano enxame de vagas borboletas brancas, gotejadas de carmim?
Platero, tu vês-nos, não é verdade?
Platero, não é verdade que nos vês?
Sim, tu vês-me. E eu oiço no poente derramado, dulcificando todos o vale das vinhas, o teu relincho magoado e terno...
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