Porque as palavras de um Mestre também nos dizem muito
Não quero nada, deixei-me ficar assim um bocadinho que já vou, não se preocupem comigo, não tenho febre, não estou doente, deixem-me só ficar assim um bocadinho, quieto, sem pensar, sem abrir a boca, sem aborrecer ninguém, sem olhar para nada a não ser a parede, ou seja aquele risquinho na parede que se calhar nem é risco, um insecto ou isso e num minuto ou dois levanto-me, torno a ser o que vocês conhecem e pronto, esqueçam-se, fico divertido outra vez, boa companhia, simpático, mas não me peçam explicações, não perguntem o que fiz, finjam que não notaram, entrou tudo nos eixos, palavras, sinto-me óptimo, como novo, capaz de cambalhotas, pinos, gracinhas, há alturas em que consigo ser divertido não é, a alma da casa, a alegria da família, a animação em pessoa, mas por agora não quero nada, deixem-me ficar um bocadinho que já vou, não me espiem, não me observem, não se inquietem, façam de conta que não estou cá, e não estou mesmo, a cabeça anda-me desconheço por onde...
António Lobo Antunes
Também eu hoje, agora, quero um bocadinho de tempo só para mim, para divagar, voar, sabe Deus por onde...
Sem comentários:
Enviar um comentário